✠ Dom IOSIF Arcebispo Metropolitano de Buenos Aires (Argentina)
Εsta tradução ocorre em um tempo repleto de
complexidades e dificuldades que anunciam implicações que, por ora, não é
possível prever com segurança. Consequentemente, este é um momento que –
desde sua própria gênese – inspira insegurança, inquietação e incerteza
em todo ser humano. É também um tempo que evoca, direta e claramente,
toda a extensão da própria natureza humana, dos mais elevado e superior
ao mais inferior e miserável. É, pois, um tempo em que necessariamente
nos encontraremos com nós mesmos, tanto coletiva como individualmente,
vinculados à natureza, ao meio ambiente e, àquele que têm fé, com Deus.
A questão que deve, caso a caso, ser esclarecida neste momento de
crise – seja qual for sua verdadeira gênese – é: qual é realmente o
verdadeiro vínculo que tanto nos une a nós mesmos, como humanidade, à
natureza, ao cosmos e a Deus. O mundo que encontraremos após essa
“prova” – imposta ou não, ainda não está claro – dependerá certamente
dessa encruzilhada, sobretudo existencial, e que necessariamente
impacta-rá todos os aspectos práticos de nossas vidas. O mundo que
sobrevirá de-penderá da nova visão que adquirimos da nossa realidade
interior e da que nos cerca. E, acima de tudo, vai depender de como nos
posicionaremos nele. Qual o meu papel, que posição tenho hoje na
realidade presente? Qual é o meu vínculo com o outro, comigo mesmo e com
Deus? E, se há, que tipo de relação é essa? Seguramente, depois dessas
circunstâncias, o mundo não será mais o mesmo de alguns meses atrás.
As circunstâncias nos obrigam a rever, de um ponto de vista mais
profundo – o existencial, – nossa posição na realidade e, assim, recriar
a própria realidade.
O presente Cânon que apresentamos ao clero e fiéis desta Sacra
Arquidiocese, é o produto – como toda obra hinográfica e litúrgica – da
vivência milenar da Igreja e de seus membros. Tem o caráter e a forma
ritual própria dos cânons exortativos, embora sobressaia de seu conteúdo
a tremenda força que brota de múltiplos sentimentos experimentados pelo
povo de Deus que se vê provado na tribulação. O hinógrafo coloca
palavras na voz do povo de Deus. Não é uma voz individual ou pessoal, é a
voz uníssona de todos os filhos de Deus, de toda a humanidade que se
junta à voz do sacro-hinógrafo para expressar a sua experiência a Deus,
sua única e última esperança. As impressões e sentimentos são múltiplos:
expressa o terror, o medo, a inquietação, a incerteza, a perplexidade.
Mas, tudo isso – típico do homem em uma situação de calamidade – conduz
naturalmente, através da fé, à firme convicção de que o Deus Filantropo é
a única solução na tribulação.
As emoções – por mais negativas que possam parecer e, portanto,
nutridas por um profundo fervor religioso – passam espontaneamente a um
segundo plano quando a fé teológica as faz entrar no desfiladeiro
próprio da natureza espiritual do homem que, de uma forma ou de outra,
chega até Deus. Assim, os sentimentos e emoções de origem ou tendência
religiosa – como é natural nesse tipo de obra – são redirecionados pelo
sentido teológico/espiritual que transcende essa etapa do processo de
identificação com o divino.
A tradução é atual em vários sentidos, especialmente porque foi
realizada em tempos de tribulação. Preferimos adaptar a linguagem para
uma assembleia originária de uma determinada cultura e época tratando,
no entanto, de sermos escrupulosamente fiéis ao texto e à sua essência,
mas com a sensibilidade própria da época e das circunstâncias. Desta
for-ma, modismos e contornos de corte nitidamente religioso – pietismos
próprios da época foram suavizados para que o orante não se detenha no
secundário do texto e se aprofunde, sem grandes obstáculos, na essência
do mesmo. Da mesma forma, a oração final foi cuidadosamente estudada
para ser assim adaptada ao caráter de perenidade do original.
De todo modo, este Cânon é um meio, não um fim. E como tal, tem o
escopo que o orante lhe dá com a atitude, a fé e a convicção com que o
reza. Estendemos isso a todo o Clero da Arquidiocese com o desejo de que
seja distribuído também aos fiéis interessados na oração própria deste
tempo. Pode ser feita nos templos ou de forma individual nas casas, de
acordo com as indicações vigentes em cada país em relação ao
isola-mento/distanciamento social e de saúde. Para além de sua posição
geográfica, o orante deve ter em mente que, ao rezar, faz-se
propriamente a voz da Igreja e de toda a humanidade; o pessoal e o
individual são inevitavelmente transcendidos por um responsável e
necessário senso de pertencimento à humanidade recriada em Jesus Cristo,
que é a Igreja mesma.
Esperamos que este novo instrumento espiritual traga seus frutos e
atraia a misericórdia de Deus e a sua inefável filantropia, para que
assim nos mostre uma vez mais a sua comiseração e nós, em profunda
“meta-noia”, sejamos capazes de descobrir e, finalmente, nos convencer
de que com Deus tudo é possível, mas sem Ele a impossibilidade é o único
destino do homem.
Na sede metropolitana, em 25 de março de 2020,
festa litúrgica da Anunciação da Theotokos.
festa litúrgica da Anunciação da Theotokos.
✠ Dom IOSIF
Arcebispo Metropolitano de Buenos Aires (Argentina)
Primaz e Exarca da América do Sul
Arcebispo Metropolitano de Buenos Aires (Argentina)
Primaz e Exarca da América do Sul
Versão em português:
Em espanhol:
Canon-de-súplica-ante-el-peligro-de-una-enfermedad